Padrão X Variedade - Desconfiável?


Para que haja um padrão de qualidade alto e garantido, cujas certificações são alcançadas e a fiscalização constante, geralmente um produto é fabricado por uma ou duas empresas, que praticamente possuem o monopólio do setor. Em contrapartida, uma multiplicidade de empresas são abertas diariamente, com poucos recursos, certa inexperiência e muito trabalho. O resultado são produtos despadronizados e muitas vezes de qualidade duvidosa.

A presença de muitas empresas em determinado setor, e a produção fora das normas, ou muito diferenciada, causam uma dificuldade de inspeção dos produtos e diminuem a velocidade dos projetos. Na Europa, por exemplo, grandes empresas fazem seus monopólios, principalmente devido à alta fiscalização do governo, tendo em vista assegurar padrão de qualidade e estimular a industrialização – com produtos produzidos em maior escala e atendendo às exigências prescritas. Uma carrocinha de lanches, por exemplo, se atuar lá abaixo do padrão exigido, paga multa que a obriga a falência. Aqui no Brasil, com tanta população e tanta informalidade, a mentalidade para padrão de qualidade está um pouco mais longe de ser incorporada.

Para não dizer que não vejo um lado bom aqui, as micro e pequenas empresas têm a possibilidade de evoluírem e aumentarem seu capital, movimentando a economia, reduzindo a desigualdade, estimulando o desenvolvimento do país que ainda têm muito para crescer. No caso da Europa, a desigualdade social é menor, mas a multiplicidade também, o que pode limitar as possibilidades criativas em função do controle técnico.

Neste sentido a criatividade brasileira e abundância de matéria prima, com grande volume de mão-de-obra precisa da organização engenheira e gerenciamento estratégico.

Em se tratando de desenvolvimento de projetos no computador, se o software, por exemplo, já vem atrelado às tecnologias construtivas, facilita e agiliza todo o trabalho. Grandes empresas e alguns profissionais se utilizam destes recursos, como o sistema bim. O programa Revit, por exemplo, altera em todas as vistas quando apenas uma planta é acessada, e permite que diversos profissionais em áreas de conhecimento distintas atuem ao mesmo tempo no mesmo desenho, melhorando o "time" de compatibilizações. Sem falar dos bancos de dados que disponibilizam uma série de produtos e especificações pré-estabelecidas no mercado, incluindo orçamentos, planilhas e tabelas. Enquanto isso as comunidades de menor poder aquisitivo fazem seus puxadinhos com o material de construção obsoleto da esquina, que gera resíduos e continua tendo que fazer para quebrar depois. E não só as comunidades. Construtoras também.

O estímulo da economia nacional deve se posicionar formando modelos a serem copiados pelas diversas classes sociais. É interessante que venha da indústria, dos arquitetos em assistência à população, principalmente de mais baixa renda, que precisa ser educada não somente na escola, mas na própria rua e comunidade. A educação estética e técnica não se restringe aos especialistas. De forma análoga, os profissionais precisam ver o que a sociedade está produzindo, porque, para que, e como, a fim de extrair informações a serem utilizadas em seus projetos.

Comentários

  1. Este post é uma porção de um texto mais amplo sobre as possibilidades da industrialização da construção na melhoria da moradia dos menos favorecidos, desenvolvido durante o meu Mestrado em Engenharia Urbana.

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