A arquitetura perdeu muito...


Tenho verdadeira saudade dos tempos em que a boa arquitetura era de fato o que está proposta a ser: abrigo, construção simbólica, cuja função caracteriza conforto. Vou explicar.

Quando os primitivos iam morar na caverna, era para se abrigar da chuva, do sol quente, para manter-se protegido.
Hoje em dia, vou pro meu apartamento pegar sol quente, e ainda entra chuva pela janela, e mesmo com trancas, alarme e porteiro 24H ainda me sinto desprotegido. Não vou me deter agora na questão social, mas nos aspectos de arquitetura.

Na medida em que o homem foi se tornando sedentário, por conta do desenvolvimento da técnica da agricultura etc, e entendendo as características naturais de seu meio, utilizando materiais locais, começou a construir sua própria moradia. O homem, animal racional, começou a perceber melhor as propriedades térmicas dos materiais, o comportamento dos ventos, do sol, e foi adequando sua moradia para se sentir mais confortável, afinal, somos homeotérmicos. Além da moradia, outras construções foram sendo erguidas como necessidade do homem de se expressar e se organizar. Além da função das construções, elas detinham grande poder de comunicação: a arquitetura enunciava que se tratava de um templo ou de um lugar de reis, ou de um posto de trocas, ou um estabelecimento de ensino... E diante da dificuldade de transportar e locomover produtos em grandes distâncias, o que era utilizado se encontrava no próprio território. Existem maravilhosos exemplos de arquitetura vernacular! Que contam verdadeiras histórias!

Guerras, grandes navegações... E temos aqui no Brasil, além das eficientes ocas indígenas, a arquitetura colonial. Passado o apogeu das arquiteturas Greco-romanas, de refinado acabamento e numerosos adornos, em nosso país tropical são produzidas telhas de cantaria, grandes beirais com varandas agradáveis, que ainda protegiam do sol e da chuva, mantém-se a gárgula para extravaso das águas pluviais, cores claras, predominantemente o branco, que absorve pouco calor e é refletora, janelas grandes em vários pontos da casa para entrada e circulação de ventos, espaços amplos, boa escala. E os jardins!




Como moda, muda. Revolução industrial, ampliação do uso do ferro. Que maravilha os trens! Como funcionava! Abertura de avenidas arborizadas, construção de parques públicos com fontes e lagos. As fachadas mudaram um pouco, retomou-se o uso da platibanda com telhado embutido, os adornos reapareceram, de forma mais simples... O adensamento populacional aumentou, era preciso melhorar a infra-estrutura, o saneamento...
O que afinal é bem planejado? As cidades vão se formando, e mais gente se concentrando.

O conforto sempre foi buscado pelo homem, afinal, ele havia sido expulso do paraíso!

Bem, a essa altura tínhamos muitos estilos maravilhosos para contar histórias, recheados com todos os seus significados. O que falar do medieval, do gótico...?
De um lado e de outro a discussão começou a se dar em torno de forma e função ( e continua...). - Simplificaram demais! - Mas e o conforto?
Então, um grupo de funcionalistas apareceu com um interessante estudo que propunha 5 pontos chaves para uma arquitetura moderna. De fato fizeram um bom trabalho. Ventilação cruzada, estrutura independente, terraço jardim, brises, quanta coisa boa aproveitando da melhor maneira possível as características naturais, adequando implantação do edifício, orientação em relação à Sol e à ventos, áreas verdes. Isso sem contar na facilitação nas ligações de infraestrutura. Particularmente acredito que ainda não fizeram nada melhor que a arquitetura moderna... poderiam só ter diminuído um pouco a escala das construções...

Como moda, muda. E veio a globalização. Importa, exporta. -Pra que? -Não sei! Temos que comprar! E junto com as mercadorias nos tornamos humanos cada vez mais egoístas. Tratando uns aos outros como coisas, fomos nos coisificando. E numa velocidade cada vez maior aumentamos o descartável e criamos necessidades que não precisávamos.
Puxa! Nos Estados Unidos tem clima diferente daqui. Lá faz mais frio. As caixinhas de vidro tipo “estufa” são boas pra manter o pessoal quentinho, confortável. Mas aqui, tem que usar sempre o ar condicionado! Gasto de energia que a natureza tá pagando o preço (enquanto a gente não explora melhor esse negócio: ex. energia eólica, solar). Fica tudo fechado, maior risco de doenças, ressecamento das vias nasais, choque térmico! E a gente faz achando lindo! Mas tem vidro com proteções. Tá. Mas tem outras maneiras mais eficientes de construir.

Comentários

  1. As fotos são ilustrativas, para expandir a reflexão. A primeira é de uma casa de pedra em Igatu, a segunda de uma comunidade indígena em Porto Seguro, ambas no Nordeste brasileiro; a terceira é na faculdade de Aveiro e a última no centro de Aveiro, Portugal. Tiradas entre 2009 e 2011 durante viagens.

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